AS NOITES ENTRE DOIS DOMINGOS – João Luís Guimarães

O diário que a avó pedia na tabacaria
durante algum tempo ofereceu talheres
para coleccionar. Facas
garfos
colheres a cada dia entrava outra
peça de metal somando para um serviço (nem
pedido nem
usado) que há alguns anos daria para um
útil enxoval. Agora ela é sozinha
(numa cozinha
equipada) frente a
uma mesa despida onde pela tarde folheia
as novidades da
crise. «À noite é que custa mais.» Imagino-a
a recortar a colecção de receitas
(que a revista vai servindo em fascículos
ao domingo) e a
pôr a mesa para dois –
para ela e para a solidão que se mudou para ali
quando ela ficou sozinha
como um verme que rói casa dentro de
uma bela maçã.

Il giornale che nonna chiedeva al tabaccaio
per un certo tempo offriva posate
da collezionare. Coltelli
forchette
cucchiaie ogni giorno giungeva altro
pezzo in metallo per formare un servizio (ne’
richiesto
ne’ usato) che da un po’ di anni poteva essere
un utile corredo. Adesso lei è sola
(in una cucina
organizzata)di fronte
a una tavola spoglia dove di sera scorre
le novità della
crisi. «Di sera è più difficile.» L’immagino
a ritagliare collezioni di ricette
(che la rivista continua a fornire in fascicoli
la domenica) e ad
apparecchiare la tavola per due –
per lei e per la solitudine che lì si trasferì
quando lei rimase sola
come un verme che creacasa dentro
una bella mela.

João Luís Guimarães

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